A necessidade de buscar na escola um alicerce de futuros atletas transforma o esporte escolar num trampolim para que os professores de Educação Física formem verdadeiros medalhistas. Hoje, os colégios procuram, sim, alunos-atletas que possam conquistar muitas medalhas e com isso mais alunos, mais atletas, mais medalhas e por fim, alunos condicionados ao esporte de rendimento. Isso em muitos estados do Brasil torna-se a única maneira de se praticar o esporte em nível diferente do amador e é o caminho que existe para alguns atletas conseguirem chegar ao esporte profissional.
O fato é que a prática esportiva está fortemente orientada pelos princípios do rendimento e da competição (cfe. BRACHT, 1992); e o espaço escolar é regido pelo seu processo político pedagógico, “teoricamente autônomo”; o problema, é que se perde com esse esporte de alto nível toda a metodologia pedagógica e se firma na competitividade, na individualidade e na busca incessante por medalhas e prestígio para o colégio (como é o caso de Sergipe, em especial suas escolas particulares).
Sendo assim, no âmbito escolar exige (deveria exigir) uma abordagem reflexiva que se considere também a importância de se trabalhar com a mídia no processo pedagógico; a idéia-chave é saber relacionar todo o aparato tecnológico para fazer com que se possa refletir e discutir o conteúdo a ser dado/trabalhado em sala de aula. Ao mesmo tempo em que passamos a lidar com a linguagem midiática de forma pedagógica, devemos ter a habilidade de nos apropriarmos dessas novas ferramentas que não podem ser despercebidas pelo professor, pois, já se constituem presentes na vida cotidiana do aluno.
Cada escola tem sua realidade e é a partir desta que poderemos concretizar experiências significativas no esclarecimento de como é de fato o esporte de rendimento e o esporte com os princípios básicos para que se alcance o verdadeiro ensino-aprendizagem. O que queremos discutir é que esseprocesso de esportivização é de fato um artifício do sistema capitalista. E assim, confunde os educadores no momento que são “manipulados” (exigidos?) pelos diretores de colégios que buscam apenas as “medalhas” e com isso mais alunos matriculados no seu colégio (ou seja, a relação “ensino de qualidade” está pautada nas “medalhas conquistadas em jogos escolares estaduais”).
O exemplo mais fácil de se constatar é aqui mesmo em Aracaju/SE, quando muitas escolas particulares costumam dar bolsas a alunos de outros colégios que se destaquem em algum esporte; tirando os melhores atletas de seus colégios, normalmente de escolas públicas, e levando para colégios particulares. Esse tipo de situação ocorre principalmente visando os campeonatos que são cobertos pela imprensa, principalmente a TV Sergipe, afiliada à TV Globo, que criou um campeonato escolar para ter a cobertura absoluta do evento os “jogos escolares da TV Sergipe” que é um dos campeonatos escolares mais disputados do estado.
Vejam que a educação processa-se de acordo com a compreensão da realidade social em que está inserida, ou seja, a educação sofre influência daquilo que a circunda, ao mesmo tempo que também impacta em tal realidade. E muitas das vezes, é através das questões econômicas e competitivas que os colégios assumem como prioridades a sua política pedagógica; sendo assim, o sistema educacional (público) é caracterizado como incompetente, recebendo a culpa pelo desemprego, falta de competências técnicas da população e outras responsabilidades impostas pelo discurso neoliberal.
Sendo assim, pensamos que devemos como profissionais da Educação Física compreender o esporte nos seus múltiplos sentidos e conceitos, para que possamos agir com liberdade e autonomia, e assim, ter capacidade objetiva de saber efetivamente praticar o esporte, como capacidade de interação social e de comunicação. Já que na escola o esporte não deve ser algo apenas para ser praticado, mas sim estudado pedagogicamente.
Sem contar que o campo da Educação Física e da mídia tem se aproximado – ou melhor, interagido – de forma, às vezes, contundente. Falar em formação sem pensar na influência da mídia, significa dizer que está em outro momento, anacrônico. A própria mídia televisiva já trata o esporte com um destaque único entre as diversas temáticas que são trabalhadas pelo campo jornalístico. Sendo assim, o que devemos fazer como professores é saber trabalhar a tecnologia de forma que sirva aos anseios do espaço escolar; além do mais, trazer acontecimentos que mostrem a realidade midiática e esportiva para os seus alunos em sala de aula é o dever de um bom educador e de um preocupado professor com que se passa na mídia de forma geral. Um cidadão que tem responsabilidades sociais e pedagógicas com outros cidadãos!
Portanto, a escola precisa discutir o esporte, recriá-lo, desenvolver valores assentados no coletivismo, pensar a integração do corpo discente sem seleção dos melhores, enfim, a escola e o esporte comungam do mesmo objetivo, que é a compreensão da essência do esporte na sua vida. O esporte nas aulas de Educação Física foi canalizado como finalidade, não como meio, no entanto a aprendizagem limita-se às técnicas esportivas (nem isso ultimamente!) e à incorporação de suas normas. Assim, como professores de Educação Física temos o dever de mostrar esse fenômeno da esportivização, como também, o processo influente que a mídia possui sobre as pessoas; mas, também, trabalhar pela construção de uma escola universal, que respeita as diferenças locais, regionais, nacionais, enfim, a diversidade cultural existente na sociedade e no cotidiano de cada aluno.
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