A Educação Física tem o movimento como um meio e um fim para atingir seu objetivo dentro do contexto escolar.
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Esportivização, como o próprio nome indica, é o processo de transformação de certas práticas corporais em esporte institucionalizado. Hoje em dia, esse processo tem ampliado o número de modalidades esportivas em todo o mundo. Um exemplo disso é a capoeira, patrimônio cultural brasileiro, com o qual nos deparamos nas ruas e comunidades de inúmeras cidades brasileiras, tradicionalmente considerado um jogo com elementos de dança e de artes marciais, mas que já tem, em alguns lugares (como em São Paulo), tomado também a conotação de esporte de competição (tendo inclusive torneios oficiais, organizados por federações de capoeira). O pular corda é outro exemplo interessante. Uma atividade lúdica, inicialmente associada às crianças, hoje possui também uma vertente competitiva nos Estados Unidos em que há campeonatos nacionais de pular corda. A ginástica aeróbica, inicialmente uma modalidade de ginástica de academia, acabou também se tornando um esporte altamente competitivo. Quando uma prática corporal sofre o processo de esportivização, normalmente ela passa a existir em duas formas: a sua forma original, não esportiva (por exemplo, o jogar queimada como brincadeira), e em sua forma esportivizada (os campeonatos de queimada). Esse processo de esportivização atinge práticas corporais tão distintas quanto jogos e brincadeiras populares (em Belo Horizonte, já há torneio interescolares de queimada, por exemplo, para não citar o exemplo da peteca que já há muito foi esportivizada), artes marciais (quase todas elas, como o judô e o karatê, por exemplo, tem uma federação internacional e são parte do programa olímpico), ginásticas (com o exemplo óbvio da ginástica olímpica, mas também com as competições oficiais de ginástica aeróbica) e danças (freqüentemente ouvimos falar de concursos de dança, em que se utiliza o formato esportivo de definição de posições, entrega de medalhas, troféus e prêmios). Cabe ao professor de Educação Física problematizar, em suas aulas, essa esportivização generalizada de tantas práticas corporais, buscando possibilitar aos alunos a compreensão do porquê desse fenômeno e o entendimento das suas conseqüências (positivas e negativas, alterando sentidos e formas de práticas corporais diversas). O que podemos ensinar nesse tópico? Inicialmente, é importante definir o que é esportivização, citando exemplos de práticas corporais que já sofreram esse processo. Além disso, as discussões sobre essa temática devem levar os alunos a responder as seguintes questões: o que existe de comum nos processos de esportivização de diferentes práticas corporais? Que transformações nessas práticas são comuns quando sofrem a esportivização? Que tensões se estabelecem entre a prática corporal na sua forma original e a prática corporal esportivizada (por exemplo, a tensão entre a capoeira jogo e a capoeira esporte)? Por fim, é importante refletir sobre como o esporte atingiu uma influência tão grande sobre a sociedade, no caso específico das práticas corporais e também das atividades acadêmicas (as olimpíadas de matemática ou de química, por exemplo) e de atividades do nosso cotidiano. A questão seguinte é como ensinar esse tópico, levando os alunos a experimentarem, corporalmente, as duas possibilidades de uma prática corporal (a forma original e a forma esportivizada), permitindo perceber as diferenças entre ambas as formas. Assim, por exemplo, pode-se propor a realização de rodas de capoeira, em que se joga capoeira, num sentido mais tradicional dessa prática, mas também promover um mini-torneio de capoeira-esporte, utilizando regras oficiais de uma federação de capoeira. A comparação das duas formas de praticar a capoeira ou qualquer outra prática corporal pode possibilitar uma compreensão mais ampla e contextualizada do fenômeno da esportivização. Que tal realizar um exercício de esportivização nas aulas, criando regras unificadas e formas de competição para algumas práticas corporais ainda não esportivizadas? Essa estratégia pode contribuir para os alunos compreenderem como se dá esse processo em sua origem e que tipo de transformações ocorrem. Um grupo de alunos poderia, por exemplo, esportivizar a amarelinha, tendo como meta organizar um torneio interno dessa nova modalidade de esporte. Ao final do processo, toda a turma poderia avaliar essa esportivização fictícia, prevendo as possíveis conseqüências dessa ação. Pesquisar diferentes práticas corporais que tenham sido esportivizadas também pode ser um procedimento interessante, pois contribui para o conhecimento da dimensão desse fenômeno, seu alcance e as conseqüências reais para diferentes práticas corporais. Terão sido extintas as formas originais de certas práticas em benefício da prática exclusiva da sua forma competitiva? Terá o sentido das práticas esportivizadas mudado completamente? A esportivização de uma prática corporal contribui para o aumento ou diminuição da motivação para sua prática? Terá a esportivização contribuído para a popularização de alguma prática corporal? A avaliação desse tópico esportivização pode centrar-se na análise da capacidade do aluno de diferenciar a prática de uma modalidade em sua forma original e em sua forma esportivizada, vivenciando-as conforme os diferentes sentidos. Pode-se também analisar pesquisas sobre práticas corporais esportivizadas e trabalhos de esportivização hipotética de práticas corporais ainda não esportivizadas. Outra possibilidade é aplicar testes escritos que questionem os alunos sobre o significado desse fenômeno e suas conseqüências sobre modalidades já esportivizadas.
Quais são os graus de esportivização?
Não existem graus de esportivização. Existem ciclos de técnicas e graus de dificuldades de cada esporte,
praticado conforme o aluno ganha conhecimento de sua tecnica naquele
determinado esporte, ganha um grau de tecnica esses graus são
comparativos em esportes como lutas marciais por exemplo não existe grau 3 para jogadores de futebol ou grau 7 para jogador de basquete, existe, como exemplo, grau 7 dan de aikido.
A “esportivização”
A Educação Física tem o movimento como um meio e um fim para atingir seu objetivo dentro do contexto escolar. O movimento pode ser entendido como uma atividade que se manifesta através do jogo, do esporte, da dança ou da ginástica.
Porém, a escola escolheu o ensino do esporte praticamente como única estratégia de ensino (Gueriero e Araújo, 2004). É fácil de perceber essa afirmação, basta fazer uma visita a alguma escola no horário de Educação Física, mesmo que ela não tenha estrutura necessária para isso.
Segundo Soares (1996), o Esporte torna-se prática na Educação Física a partir da ditadura militar no Brasil. E, apesar da Educação Física ter um monte de objetivos, como o desenvolvimento do sentimento de grupo, cooperação, etc, o objetivo da escola é a aprendizagem do esporte, ficando a ginástica e a corrida, por exemplo, como simples aquecimento. A expressão, a criação e a comunicação ficaram em segundo plano e foram substituídos pelo ensino do esporte (Gueriero e Araújo, 2004).
De acordo com Gueriero e Araújo (2004), a Educação Física escolar tende a apresentar uma esportivização de suas aulas em algumas séries do ensino fundamental. Este caráter esportivizado, onde modalidades esportivas coletivas tradicionais são usadas sem uma fundamentação teórica que garanta o seus aproveitamentos como conteúdos acadêmicos, prejudica que a Educação Física como disciplina consiga crescer e alcançar seus objetivos mais amplos.
Apesar de se remeter ao esporte alguns objetivos tais como a saúde, a moral e o valor educativo, ele não o será, a menos que um professor/educador faça dele um objeto e um meio de educação.
Isto não quer dizer que se queira negar totalmente o esporte, mas sim levantar questões sobre sua orientação no sentido do Princípio de Rendimento e Concorrência, que selecionam os melhores, classificam e rejeitam os mais fracos.
http://www.efdeportes.com/efd133/a-espor…
A “esportivização”
A Educação Física tem o movimento como um meio e um fim para atingir seu objetivo dentro do contexto escolar. O movimento pode ser entendido como uma atividade que se manifesta através do jogo, do esporte, da dança ou da ginástica.
Porém, a escola escolheu o ensino do esporte praticamente como única estratégia de ensino (Gueriero e Araújo, 2004). É fácil de perceber essa afirmação, basta fazer uma visita a alguma escola no horário de Educação Física, mesmo que ela não tenha estrutura necessária para isso.
Segundo Soares (1996), o Esporte torna-se prática na Educação Física a partir da ditadura militar no Brasil. E, apesar da Educação Física ter um monte de objetivos, como o desenvolvimento do sentimento de grupo, cooperação, etc, o objetivo da escola é a aprendizagem do esporte, ficando a ginástica e a corrida, por exemplo, como simples aquecimento. A expressão, a criação e a comunicação ficaram em segundo plano e foram substituídos pelo ensino do esporte (Gueriero e Araújo, 2004).
De acordo com Gueriero e Araújo (2004), a Educação Física escolar tende a apresentar uma esportivização de suas aulas em algumas séries do ensino fundamental. Este caráter esportivizado, onde modalidades esportivas coletivas tradicionais são usadas sem uma fundamentação teórica que garanta o seus aproveitamentos como conteúdos acadêmicos, prejudica que a Educação Física como disciplina consiga crescer e alcançar seus objetivos mais amplos.
Apesar de se remeter ao esporte alguns objetivos tais como a saúde, a moral e o valor educativo, ele não o será, a menos que um professor/educador faça dele um objeto e um meio de educação.
Isto não quer dizer que se queira negar totalmente o esporte, mas sim levantar questões sobre sua orientação no sentido do Princípio de Rendimento e Concorrência, que selecionam os melhores, classificam e rejeitam os mais fracos.
http://www.efdeportes.com/efd133/a-espor…
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Tem circo na escola? Tem sim Senhor!

O circo faz parte da cultura popular mundial, graças a sua característica nômade e pode ser incluído nas aulas de educação física abordando as questões de expressão e cultura corporal, com seus conhecimentos de malabarismo, equilibrismo e acrobacias.
Porém a educação física no Brasil adotou o método Francês de ginástica e desta forma surgiu a esportivização, ou seja, o objetivo principal era formar atletas. Hoje em nossa educação temos reflexos deste passado, pois as escolas mesmo com as questões atuais que é preciso focar na cultura corporal ainda se rendem somente aos esportes tradicionais, talvez pelo fato dos professores não terem tido uma base durante sua formação sobre como trabalhar com conteúdos diferenciados e ainda talvez pelos alunos não terem contato com estas formas variadas de movimento e acreditarem que educação física é apenas “ir para quadra, pegar uma bola e jogar.”
Não queremos dizer que o esporte não é tão importante, mas sim que os outros conteúdos de cultura corporal também devem ser inseridos nas aulas de educação física. E que ambos devem ser adaptados para a escola, tendo em suas finalidades as questões de formar cidadãos, dar oportunidades dos educandos terem acesso a diversidade de conteúdos e aprenderem de uma forma lúdica.
Em nosso país ainda são poucas as escolas que trabalham com conteúdos de arte circense, embora este índice vem aumentando, esta arte aplicada em algumas escolas públicas, por exemplo, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia trazem consigo resultados positivos. Estes resultados podem servir de motivação para muitos professores (não apenas de educação física, pois com este tema podemos abranger muitas outras áreas) a buscarem conhecimentos e possibilidades de inserir essa prática em seus conteúdos.
A ESCOLA COMO MEDIADOR DO ESPORTE
A necessidade de buscar na escola um alicerce de futuros atletas transforma o esporte escolar num trampolim para que os professores de Educação Física formem verdadeiros medalhistas. Hoje, os colégios procuram, sim, alunos-atletas que possam conquistar muitas medalhas e com isso mais alunos, mais atletas, mais medalhas e por fim, alunos condicionados ao esporte de rendimento. Isso em muitos estados do Brasil torna-se a única maneira de se praticar o esporte em nível diferente do amador e é o caminho que existe para alguns atletas conseguirem chegar ao esporte profissional.
O fato é que a prática esportiva está fortemente orientada pelos princípios do rendimento e da competição (cfe. BRACHT, 1992); e o espaço escolar é regido pelo seu processo político pedagógico, “teoricamente autônomo”; o problema, é que se perde com esse esporte de alto nível toda a metodologia pedagógica e se firma na competitividade, na individualidade e na busca incessante por medalhas e prestígio para o colégio (como é o caso de Sergipe, em especial suas escolas particulares).
Sendo assim, no âmbito escolar exige (deveria exigir) uma abordagem reflexiva que se considere também a importância de se trabalhar com a mídia no processo pedagógico; a idéia-chave é saber relacionar todo o aparato tecnológico para fazer com que se possa refletir e discutir o conteúdo a ser dado/trabalhado em sala de aula. Ao mesmo tempo em que passamos a lidar com a linguagem midiática de forma pedagógica, devemos ter a habilidade de nos apropriarmos dessas novas ferramentas que não podem ser despercebidas pelo professor, pois, já se constituem presentes na vida cotidiana do aluno.
Cada escola tem sua realidade e é a partir desta que poderemos concretizar experiências significativas no esclarecimento de como é de fato o esporte de rendimento e o esporte com os princípios básicos para que se alcance o verdadeiro ensino-aprendizagem. O que queremos discutir é que esseprocesso de esportivização é de fato um artifício do sistema capitalista. E assim, confunde os educadores no momento que são “manipulados” (exigidos?) pelos diretores de colégios que buscam apenas as “medalhas” e com isso mais alunos matriculados no seu colégio (ou seja, a relação “ensino de qualidade” está pautada nas “medalhas conquistadas em jogos escolares estaduais”).
O exemplo mais fácil de se constatar é aqui mesmo em Aracaju/SE, quando muitas escolas particulares costumam dar bolsas a alunos de outros colégios que se destaquem em algum esporte; tirando os melhores atletas de seus colégios, normalmente de escolas públicas, e levando para colégios particulares. Esse tipo de situação ocorre principalmente visando os campeonatos que são cobertos pela imprensa, principalmente a TV Sergipe, afiliada à TV Globo, que criou um campeonato escolar para ter a cobertura absoluta do evento os “jogos escolares da TV Sergipe” que é um dos campeonatos escolares mais disputados do estado.
Vejam que a educação processa-se de acordo com a compreensão da realidade social em que está inserida, ou seja, a educação sofre influência daquilo que a circunda, ao mesmo tempo que também impacta em tal realidade. E muitas das vezes, é através das questões econômicas e competitivas que os colégios assumem como prioridades a sua política pedagógica; sendo assim, o sistema educacional (público) é caracterizado como incompetente, recebendo a culpa pelo desemprego, falta de competências técnicas da população e outras responsabilidades impostas pelo discurso neoliberal.
Sendo assim, pensamos que devemos como profissionais da Educação Física compreender o esporte nos seus múltiplos sentidos e conceitos, para que possamos agir com liberdade e autonomia, e assim, ter capacidade objetiva de saber efetivamente praticar o esporte, como capacidade de interação social e de comunicação. Já que na escola o esporte não deve ser algo apenas para ser praticado, mas sim estudado pedagogicamente.
Sem contar que o campo da Educação Física e da mídia tem se aproximado – ou melhor, interagido – de forma, às vezes, contundente. Falar em formação sem pensar na influência da mídia, significa dizer que está em outro momento, anacrônico. A própria mídia televisiva já trata o esporte com um destaque único entre as diversas temáticas que são trabalhadas pelo campo jornalístico. Sendo assim, o que devemos fazer como professores é saber trabalhar a tecnologia de forma que sirva aos anseios do espaço escolar; além do mais, trazer acontecimentos que mostrem a realidade midiática e esportiva para os seus alunos em sala de aula é o dever de um bom educador e de um preocupado professor com que se passa na mídia de forma geral. Um cidadão que tem responsabilidades sociais e pedagógicas com outros cidadãos!
Portanto, a escola precisa discutir o esporte, recriá-lo, desenvolver valores assentados no coletivismo, pensar a integração do corpo discente sem seleção dos melhores, enfim, a escola e o esporte comungam do mesmo objetivo, que é a compreensão da essência do esporte na sua vida. O esporte nas aulas de Educação Física foi canalizado como finalidade, não como meio, no entanto a aprendizagem limita-se às técnicas esportivas (nem isso ultimamente!) e à incorporação de suas normas. Assim, como professores de Educação Física temos o dever de mostrar esse fenômeno da esportivização, como também, o processo influente que a mídia possui sobre as pessoas; mas, também, trabalhar pela construção de uma escola universal, que respeita as diferenças locais, regionais, nacionais, enfim, a diversidade cultural existente na sociedade e no cotidiano de cada aluno.
A esportivização da Educação Física no ambiente escolar
1. Introdução
Segundo Gueriero e Araújo (2004), na evolução do homem, podemos perceber que este utiliza de instrumentos de trabalho, a partir de certo ponto, onde o uso das mãos é necessário. Desde a postura bípede, o homem possui linguagens corporais e elabora seu desenvolvimento a partir da diversidade dos movimentos e de suas necessidades.
O homem das cavernas utilizava de seu corpo para se expressar. Sua comunicação era eficiente, mesmo não existindo um sistema de escrita organizado. Quer dizer que o corpo sempre foi muito importante na comunicação interpessoal (Gueriero e Araújo, 2004).
Desde os tempos mais antigos, os jogos foram utilizados como meio de socialização, onde as pessoas podiam se comunicar, se conhecer, enfim, interagir entre si.
O jogo foi, e é, um instrumento importante para as organizações sociais, onde os indivíduos podem simular fatos reais e, através disso, exercer uma grande influência para a aprendizagem da vida social.
De acordo com Soares (1996), a Educação Física surge no século XVIII, em obras de filósofos preocupados com a educação. A formação da criança e do jovem passa a ser concebida como uma educação integral – corpo, mente e espírito –, como desenvolvimento pleno da personalidade.
O que observamos nos dias atuais é que ela não está se desenvolvendo de forma a explorar a diversidade de movimentos e expressões, sobre as quais o homem se desenvolveu. Ao contrário, a prática da Educação Física nas escolas vem se desenvolvendo de forma a incentivar a prática desportiva. Dessa forma, outros objetivos dessa disciplina não estão sendo explorados.
Para Guedes e Guedes (1997), não existe uma abordagem significativa de conteúdos mais complexos. Estes estão resumidos à prática desportiva, principalmente aos esportes coletivos como voleibol, basquetebol, handebol e futebol, limitando a produção de conhecimento corporal e cultural do aluno.
Esta tendência de desenvolvimento de modalidades desportivas coletivas na escola, como única forma de entendimento da Educação Física, pode gerar uma caracterização das aulas de Educação Física como treinamento desportivo (Guedes e Guedes, 1997). Isso pode causar uma identificação dos alunos de escolas, tanto públicas como particulares, com a prática de esportes.
Para os autores (Guedes e Guedes, 1997), esse acontecimento pode explicar o fato de que, quando questionados a respeito de sua preferência dentro da educação física, os alunos respondam quase sempre apontando para algum esporte.
De uma mesma forma, percebe-se que, atualmente, a Educação Física vem sendo confundida com a prática desportiva, havendo uma desconsideração de seu conteúdo lúdico, cognitivo e social.
Segundo Bracht (2000), já nas décadas de 60 e 70, a Educação Física escolar foi confundida com o esporte de maneira equivocada atendendo a interesses políticos que visavam se beneficiar desta condição.
O esporte foi desenvolvido de maneira tecnicista, sendo aplicado desde as primeiras séries do ensino fundamental. Portanto, tornou-se lugar comum localizar a esportivização da Educação Física na década de 1960 por conta dos investimentos do governo ditatorial nesta área (Bracht, 2000).
Gueriero e Araújo, (2004), afirmam que a esportivização da sociedade brasileira é um reflexo de sua tentativa de modernização, que remete a esforços empreendidos desde fins do século XIX. Nos tempos da ditadura, houve necessidade de se mascarar uma estrutura rígida e, ao mesmo tempo, apresentar aos alunos as regras a serem seguidas.
Porém, já naquele período, havia quem criticasse esta iniciação precoce ao jogo desportivo, já que Educação Física era sinônimo de esporte, e era obrigatória desde o ensino fundamental (Gueriero e Araújo, 2004).
Diante desse contexto histórico, o Brasil é um país que vem apresentando uma característica nas aulas de Educação Física que levam a refletir numa esportivização da prática em Escolas.
E hoje, esta relação de esporte e aula de Educação Física, como ela tem se apresentado? Será que nestas décadas, mudou-se a forma de ensinar o esporte dentro da escola? Será que há espaço para os demais conteúdos da Educação Física?
Nosso trabalho visou buscar na literatura o conceito de “esportivização da Educação Física”, como esse processo vem acontecendo e quais implicações da atuação do profissional nessa área.
Em um primeiro momento, discutimos o papel da Educação Física Escolar no desenvolvimento dos alunos. Em seguida, procuramos encontrar um conceito para “esportivização”, termo muito utilizado nos artigos que pretendem discutir a prática da Educação Física Escolar. Por último, procuramos apontar para algumas possibilidades de atuação dentro da Educação Física nas escolas.
2. Revisão bibliográfica
2.1. A Educação Física EscolarA Educação Física como disciplina escolar trata pedagogicamente os temas da cultura corporal, quais sejam, jogos, ginástica, dança, lutas, capoeira, esportes. Ela nasce como matéria de ensino, na Europa em fins do século XVIII e início do XIX. Primeiramente assume o nome de “Ginástica” e tinha um caráter bastante abrangente, foi quando passou a ser conteúdo obrigatório escolar (Soares, 1996).De acordo com Soares (1996), a partir da última década do século XIX, o nome “ginástica” ainda é muito utilizado para tratar a aula que se destinava às atividades físicas, mas já nesse tempo surge o nome “Educação Física”, com o qual convivemos até os dias de hoje.O treino esportivo e o jogo esportivo começam a ganhar terreno e perde-se a proposta de abrangência anterior. Os alunos então passam a ter uma aula cujo modelo é baseado nos métodos de treinamento (Soares, 1996).Nas décadas de 60 e 70, passa a predominar na prática os conhecimentos trazidos pela psicomotricidade, que pretendeu substituir o conteúdo apenas esportivo das aulas de educação física. O professor que não falasse em psicomotricidade e afirmasse estar ensinando ginástica, esportes, etc.; poderia se sentir envergonhado (Soares, 1996).Já a partir da década de 80 até os nossos dias, conceitos como cultura corporal, cultura física e cultura de movimento começam a aparecer. Sendo assim, se junta à prática de ginástica e esportes, a dança, as lutas e etc. (Soares, 1996).Segue abaixo um quadro de Soares (2006) que apresenta um resumo do pensamento do ensino de Educação Física ao longo da história.Quadro retirado de Soares (1996)Para Soares (1996), como prática pedagógica, a Educação Física Escolar volta-se à apreensão da expressão corporal como linguagem. Já o esporte, constrói-se através da história e cultura de cada povo como representante da instituição escolar, de deus códigos, sentidos e significados próprios.Ainda com este autor (Soares, 1996), mesmo que desde o nascimento da Educação Física Escolar o esporte esteja ligado a essa disciplina, ele torna-se independente ao longo do século XX para depois voltar a ser a expressão principal da Educação Física na escola.O que é curioso é que, mesmo que a prática da Educação Física tenha sido diferente em outros momentos históricos, o esporte volte a ser a principal atividade nas escolas. Tendo em vista que os currículos dos profissionais de Educação Física incluem disciplinas como dança, capoeira, judô, atividades expressivas, ginástica, folclore e outras, de acordo com as opções de cada instituição, como explicar a pouca utilização destes conteúdos?O que questionamos nesse estudo é o que falta ao professor para aplicar os outros conteúdos que aprendeu? Falta de espaço, de motivação, de material? Comodismo? Falta de aceitação destes conteúdos pela sociedade? Ou será que os professores desenvolvem somente os conteúdos com os quais têm maior afinidade?2.2. A “esportivização”A Educação Física tem o movimento como um meio e um fim para atingir seu objetivo dentro do contexto escolar. O movimento pode ser entendido como uma atividade que se manifesta através do jogo, do esporte, da dança ou da ginástica.Porém, a escola escolheu o ensino do esporte praticamente como única estratégia de ensino (Gueriero e Araújo, 2004). É fácil de perceber essa afirmação, basta fazer uma visita a alguma escola no horário de Educação Física, mesmo que ela não tenha estrutura necessária para isso.Segundo Soares (1996), o Esporte torna-se prática na Educação Física a partir da ditadura militar no Brasil. E, apesar da Educação Física ter um monte de objetivos, como o desenvolvimento do sentimento de grupo, cooperação, etc, o objetivo da escola é a aprendizagem do esporte, ficando a ginástica e a corrida, por exemplo, como simples aquecimento. A expressão, a criação e a comunicação ficaram em segundo plano e foram substituídos pelo ensino do esporte (Gueriero e Araújo, 2004).De acordo com Gueriero e Araújo (2004), a Educação Física escolar tende a apresentar uma esportivização de suas aulas em algumas séries do ensino fundamental. Este caráter esportivizado, onde modalidades esportivas coletivas tradicionais são usadas sem uma fundamentação teórica que garanta o seus aproveitamentos como conteúdos acadêmicos, prejudica que a Educação Física como disciplina consiga crescer e alcançar seus objetivos mais amplos.Apesar de se remeter ao esporte alguns objetivos tais como a saúde, a moral e o valor educativo, ele não o será, a menos que um professor/educador faça dele um objeto e um meio de educação.Isto não quer dizer que se queira negar totalmente o esporte, mas sim levantar questões sobre sua orientação no sentido do Princípio de Rendimento e Concorrência, que selecionam os melhores, classificam e rejeitam os mais fracos.2.3. Os jogos cooperativos como opçãoAtravés de suas atividades esportivas, a Educação Física Escolar passou uma visão de que não se pode viver, ou sobreviver, sem competição. Além disso, muitos professores acreditam que sem a competição, as atividades não têm graça e os resultados são melhores, pois cada um dá mais de si. Além disso, muitos acreditam que a competição pode ser boa e sadia.Porém, nesse contexto, os jogos cooperativos aparecem como uma alternativa para a prática da educação física. Segundo Correia (2006), os jogos cooperativos são uma nova tendência e representam uma proposta diferente das demais quando valoriza a cooperação em lugar da competição.Alguns autores dizem que os jogos cooperativos começaram a milhares de anos com os membros de comunidades tribais que se uniam para celebrar a vida. Eles representam o início de jogos com mais oportunidades sem violações físicas ou psicológicas.Os jogos cooperativos buscam a formação de valores mais humanos, pois se baseiam na cooperação, na aceitação, no envolvimento e na diversão, tendo como propósito mudar as características de exclusão, seletividade, agressividade e de exacerbação da competitividade predominantes na sociedade e nos jogos tradicionais (Correia, 2006).Os jogos cooperativos são capazes de diminuir as atitudes agressivas e aproximar as pessoas umas das outras e também da natureza, em função de suas características, que são, de acordo com Correia (2006):
não valorizar o fato de ganhar ou perder; evitar a eliminação dos participantes, procurando manter todos inclusos até o fim do jogo; procurar facilitar o processo criativo, com a flexibilização das regras; buscar evitar estímulos à agressividade e ao confronto individual ou coletivo; libertam da competição, porque o interesse se volta para a participação, eliminando a pressão de ganhar ou perder produzida pela competição; libertam da eliminação, porque procura incluir e integrar todos, evitar a eliminação dos mais fracos, mais lentos, menos habilidosos etc.; libertam para criar, porque criar significa construir, exigindo colaboração.Permitindo a flexibilização das regras e mudando a rigidez destas, facilitam a participação e a criação;
libertam da agressão física, porque buscam evitar condutas de agressão, implícita ou aceita, em alguns jogos.Com tudo isso, podemos concluir que com os jogos cooperativos, a Educação Física Escolar pode enxergar com muito mais facilidade a integralidade do ser humano e a necessidade de trabalhar valores tais como a solidariedade, a liberdade responsável e a cooperação.
3. Metodologia e procedimentos
Esse estudo é uma revisão bibliográfica, pois se utilizou de material já elaborado como livros e artigos científicos e não prevê o contato direto com “materiais de brutos” ou informantes de primeira ordem.
Esse estudo consistiu em uma busca por livros, artigos especializados, dissertações e teses que possuíam informações sobre o tema da “esportivização” da Educação Física Escolar. O levantamento de material foi realizado on line em bases de dados disponíveis, como Scielo e Google Scholar. Não houve restrição de tempo na busca de artigos, apesar disso, pôde-se observar que a produção sobre esse tema é bastante recente.
A pesquisa foi realizada nas bases de dados por assunto. Foram utilizadas, como palavras-chave, “esportivização”, “educação física”, “atuação profissional” e “escola”, de forma livre ou em associação.
Depois de realizado o levantamento, tudo o encontrado foi estudado através da construção de fichamentos, que abrangiam todas as informações relevantes para o estudo da “esportivização” da Educação Física Escolar.
A elaboração dos fichamentos com as principais idéias de cada texto, objetivou uma posterior correlação entre os diversos autores. O cruzamento dos resultados e conclusões apresentados por cada estudo possibilitou uma visão sobre os caminhos que as pesquisas sobre o tema vêm seguindo.
4. Discussão dos resultados
De todos os conteúdos de ensino presentes em aulas de Educação Física parece-nos que aqueles de natureza esportiva sempre predominaram. O que não é algo ruim, mas ainda faltam muitas coisas nas aulas de Educação Física.
O que podemos ver nas Faculdades que formam professores de educação física é que elas ensinam muitas matérias que estão ligadas ao esporte. Fica difícil pro profissional agir diferente. Mas, mesmo aqueles que aprenderam outras coisas como a dança, o folclore e etc., não passam esses conteúdos para seus alunos na escola.
O professor de educação física dá mais valor ao desenvolvimento de competências e habilidades esportivas, onde sempre se sai melhor o mais forte e melhor naquele esporte.
O que vemos, na realidade, é que muitos professores de educação física se acomodam e falam que é difícil mudar esta característica esportizada das aulas, alegando que os alunos não permitem, e não querem esta mudança.
A acomodação e a falta de comprometimento com as obrigações como educador fazem com que aulas de Educação Física se tornem pouco significantes para a formação dos alunos, e assim, têm sua importância questionada na escola.
Falta o envolvimento do professor para planejar suas aulas, de definir qual será sua participação durante as atividades aplicadas na aula, pois definirá a motivação dos alunos e, assim, a qualidade da mesma.
Mas também é importante dizer que o professor muitas vezes não tem como se dedicar às suas aulas como deveria. Muitos professores precisam trabalhar em diversas escolas ao mesmo tempo para ganhar um salário que dê mais conforto. Por isso, o professor não tem um tempo para o planejamento de suas aulas.
Outra coisa que precisa ser considerado é aquele que diz respeito a “escolha” do conteúdo por parte do aluno. O aluno “escolhe” Vôlei e passa sete anos na escola “jogando” Vôlei. Ou então o professor “escolhe” Handebol e o aluno passa anos “jogando” Handebol. Imaginemos o professor de Língua Portuguesa, por exemplo “escolher” “análise sintática” e trabalhar somente com análise sintática, ou o aluno “escolher” “redação”.
É impossível negar aos alunos, nas aulas de Educação Física de 1º e 2º graus, o aprendizado de esportes. Mais do que isto, temos que aceitar que este é um fenômeno da cultura corporal de movimento e trabalhar adequadamente com ele.
O que não podemos aceitar é que a forma como este conteúdo é transmitido não passe pela compreensão e transformação do aluno. Falta, portanto, construir uma nova forma didática de utilização dos esportes na escola que consiga delegar a este fenômeno a tão almejada educação pelo/através do esporte.
A função do professor é a de promover o entendimento dos vários sentidos que os jogos esportivos possam ter, como resolver os conflitos que possam surgir em sua realização e a compreensão, e até, alteração de suas regras.
É preciso aprender a discutir o que acontece no esporte, por exemplo, a questão política dos boicotes olímpicos, os ídolos, e não simplesmente negá-los. O professor de Educação Física é o mais indicado par abordar estes assuntos, sem, no entanto, transformar a aula em pura teoria.
Existe a necessidade da aula ser um lugar de aprender coisas e não apenas o lugar onde aqueles que dominam as técnicas de um determinado esporte vão “praticar” o que já sabem, enquanto aqueles que não sabem continuam no mesmo lugar.
Se estivermos na escola, devemos dar um tratamento escolar ao conteúdo e, sobretudo dar lugar a abrangência que ele possa ter.
Talvez as pesquisas sobre ensino hoje já possam romper com a visão tecnicista e mergulhar no conteúdo de cada área. Talvez hoje, estejamos necessitando estudar Ginástica, Jogos, Dança, Esportes e de posse destas fantásticas atividades codificadas pelo homem em sua história valer-se, criativamente, de metodologias que encerrem valores mais solidários, que apontem para uma saudável relação entre indivíduo e sociedade e vice-versa.
O Ensino da Ginástica ou de qualquer Jogo Esportivo, por exemplo, sempre encerrará em seu interior uma dimensão técnica. Mas uma dimensão técnica não significa nem tecnicismo nem “performance”. O lugar da “performance” não é na escola. O caráter lúdico pode prevalecer sempre numa aula de Educação Física, desde que ela seja realmente uma aula, ou seja, “um espaço intencionalmente organizado para possibilitar a direção da apreensão, pelo aluno, do conhecimento específico da Educação Física e dos diversos aspectos das suas práticas na realidade social”(Correia, 2006).
Enfim, o professor deve estar ciente de sua capacidade de transformação social, de sua intensa participação na formação de valores para o caráter de seus alunos.
5. Considerações finais
Com tudo o dito anteriormente, concluímos que não basta aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas, aprendizagem esta necessária, mas não suficiente. Se o aluno aprende os fundamentos técnicos e táticos de um esporte coletivo, precisa também aprender a organizar-se socialmente para praticá-lo, precisa compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível (portanto é preciso também que aprenda a interpretar e aplicar as regras por si próprio), aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo, pois sem ele não há competição esportiva.
É tarefa da Educação Física Escolar preparar o aluno para ser um praticante lúcido e ativo, que incorpore o esporte e os demais componentes da cultura corporal em sua vida, para deles tirar o melhor proveito possível.
Referências bibliográficas
- BETTI, I. C. R. Esporte na escola: mas é só isso, professor? Motriz – Volume 1, Número 1, 25 -31, junho/1999.
- BETTI, I. C. R.; BETTI, M. Novas perspectivas na formação profissional em educação física. MOTRIZ - Volume 2, Número 1, Junho/1996.
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